Aos portistas confundidos



É obviamente um exercício de presunção imensa da minha parte... No entanto, não pude deixar de reparar que, após a rara derrota no Dragão, os portistas entraram numa escalada de argumentação que considero bastante tonta. Isto porque vai buscar fundamentos errados para tentar fazer lógica com a falta de confiança que ainda se tem na equipa e sobretudo em Paulo Fonseca. Permitam-me a ousadia de dar algumas pistas para que a nossa análise à equipa, no futuro, seja um pouco mais fundamentada.

Primeiro erro: Tentar encadear esta exibição na serie de jogos fracos Gil-Viena-Estoril-Guimarães. Talvez o que mais ouvi nos últimos dias. 'A equipa vai piorando a cada jogo que passa'. Em primeiro lugar, comparar a dificuldade de um jogo com este o Atlético de Madrid, neste momento de forma, com os adversários anteriores é de si uma ideia erradíssima. Logo aí um inexplicável exercício da desvalorização do domínio que exercemos na primeira parte do jogo. Mas além disso isso faz com que se confunda a qualidade destes primeiros 45 minutos com os dos jogos anteriores. Pois considero que foram muito melhores! Diria até que, ver 90 minutos daquele nível, com uma subjugação clara de uma equipa tão forte, será muito difícil. Ao FCPorto e a qualquer equipa...

Segundo erro: comparação com o treinador e com o modelo de jogo anteriores. Pis já aqui falou do assunto e não tenho muito a acrescentar. Basta dizer que os jogadores são diferentes, os adversários são diferentes, etc. Só a capacidade dos portistas em sobrevalorizar os erros actuais e ao mesmo tempo que se endeusa êxitos anteriores é que se mantém intacta.

Terceiro erro: comparação com o plantel anterior. Dizem que temos mais soluções e que tal deveria permitir uma vida mais fácil ao treinador em termos de rotação da equipa e gestão do cansaço. O que é melhor? Um plantel com um onze fortíssimo e um banco mediano ou um plantel homogéneo em termos de qualidade, mas com jogadores entre o razoável e o bom? Óbvio que o FCPorto tem um plantel bom, mas perdeu dois foras-de-serie que estavam envolvidos na construção de jogo ofensivo. Os substitutos não têm a mesma qualidade apesar de trazerem atributos diferentes. Temos um problema óbvio de gestão dos ímpetos e dos ritmos do jogo em fases de construção, ao qual não são alheias as saídas de Moutinho e James. Muitos perguntam porque é que não descansamos com bola nos momentos em que abrandamos o jogo. Boa sugestão, mas já não temos Moutinho e como tal teremos que arranjar uma solução alternativa visto que não temos um jogador alternativo. Quem tem um jogador como Moutinho? Só o Mónaco...

Quarto erro: fixação em Quintero. Chamo-lhe o movimento anti-varelas... Futebol é espectáculo e Quintero é daqueles habilidosos que aproxima o desporto ao patamar artístico. Mas convenhamos que o jogo é bem mais que isso. Evitar que os artistas possam jogar o que sabem é também uma arte. Fazer com que os Quinteros consigam ter bola contra adversários como o Atlético de Madrid é ainda mais difícil. Ora está mais que provado que o FCPorto ainda não está preparado para acolher convenientemente Quintero nestes jogos. Por exemplo, na terça-feira a pior fase de construção de jogo da equipa coincidiu com a saída de Lucho por troca directa com o miúdo. Dirão que entrou na fase pior da equipa. Mas poderei contrapor dizendo que, se tivesse jogado de início, acredito que não conseguiríamos empurrar o adversário como conseguimos. O esquema actual do FCPorto não tem lugar permanente para Quintero mas tem lugar para Varela e Defour. Dirão que o Quintero é mais talentoso, mas sendo este um desporto colectivo, a medida de talento não deve ser doseada com um grau de utilidade? Onde anda o jogador brasileiro que há uns anos conseguia controlar a bola com o nariz? Kerlon, lembram-se? Truque bonito, mas tão pouco útil à equipa... Comparação absurda, não é? Por vezes são precisas para defender uma posição.  Talento ao serviço da equipa! É o que se pede.

É esse o grande desafio de Paulo Fonseca e de todos os treinadores: tirar melhor partido do talento que tem e, até este momento, tenho concordado com grande parte das opções. No entanto, não perdoarei se o rendimento de alguns jogadores, aos quais ainda não vi um rendimento suficiente para entrar na equipa, não forem evoluindo à medida que a época vai avançando. Será, esse sim,  um sintoma de treinador fraco e limitado. É muito fácil trabalhar com onze Defours. Os Quinteros é que dão trabalho, mas valem a pena!

Comentários

riskolas disse…
AGREE!
De qualquer forma insisto que me parece que não temos nem se percebe a ideia de jogo. Neste momento não é possível caracterizá-lo a não ser como confuso.
Obviamente há atenuantes e o tempo é uma delas.
Anónimo disse…
Quintero é um grande jogar, e os grandes jogadores tem lugar em qualquer equipa, não perceber isto, é perder tempo na construção da equipa. Se não serve, então para que veio? e Herrera? não tem lugar? Para jogarmos com a mesma (fraca) equipa do ano passado, mais valia não ter contratado ninguem. já para não falar do Ghilas. eu sou apenas um treinador de bancada, mas ha coisas tão obvias
A equipa inicial só se pode ressentir da saída do Moutinho porque o James andou meio ano em passeio e lá continuamos a ganhar. A ideia de inverter o triângulo é que fez com que a equipa, além de perder o seu médio que mais pensava o jogo, ficasse sem qualquer tipo de rotinas.

Pessoalmente, já andava preocupado há alguns jogos e escrevi-o no meu blog ainda antes do empate com o Estoril. Os indicadores eram maus e confirmaram-se.
OxXuR disse…
A sério que gostaria de ser simpático com o Paulo Fonseca e tentar ter uma analise ao jogo que o Porto desenvolve, mas sinceramente acho que o problema não vem dai, mas sim de pequenas decisões do treinador. Ora vejamos:

Fernando sempre jogou sozinho e deu boa conta disso, porquê que agora não está a mostrar o rendimento com o Defour ao lado?

Defour a 6 a 8 joga onde afinal??? O rapaz para mim até nem tem qualidade para jogar no Porto mas mesmo que tivesse não seria neste lugar que o treinador inventou para ele.

Lucho precisa de ver a sua forma fisica melhor gerida e não ver-mos situações tipo contra o Guimarães em que joga os 90min enquanto o Quintero que não foi titular na Liga dos campeões sai aos 60min. E depois para alem disso para mim o Lucho joga melhor a 8 do que a 10.

A mesma situaçao do esforço para o Jackson apesar que ele é mais novo mas mesmo assim o Ghilas precisa de minutos e não de gozo porque em dois jogos que entrou um entra aos 90min outro entra aos 88min no próximo se fosse eu manda o treinador jogar poh ....

Enfim e depois várias subtituiçoes mal feitas que desmoralisa a própria equipa e que jogadores que estão a jogar bem saem fora e os que jogam 0 ficam, e isto tudo sente-se como nós adeptos sentimos...
Comprimentos
SDF disse…
Nao percebo e continuo sem entender como ha quem diga que por já não termos moutinho não podemos jogar da mesma maneira que o ano passado , quando este treinador abdicou de jogadores para dar lugar cativo a defour varela e lica e insiste no seu modelo táctico á paços de Ferreira!

Ora porra para este post e quem o escreve só fala no quintero mas não nos 8 milhões espetados no Herrera o suposto substituto de Moutinho, não se atreve a falar!
Está na equipa B, deve estar a ter a eterna adaptação, ou seja o verdadeiro flor o falhanço total da sad e do tao famoso scouting!
Se não é flop é porque Paulo Fonseca deve ser incompetente ou ha empresários com vontade de vender Defour!
Um jogador por 8 milhões na actual conjuntura é para entrar na equipa principal ou então estamos muito ricos!
Enfim haja paciência para esta gente!
orodas disse…
O FCP perdeu um fora de série...ou pelo menos perdeu um fora de série com peso relevante na equipa do ano passado. Olhar para o desempenho do James no ano passado e considerar que é um fora de série é não perceber nada de futebol.
Taqui disse…
Tudo se questiona! É o treinador, é o triangulo, é o Lucho ou o quintero a 10, é o defour e o fernando, tudo se questiona! Falar a posteriori é muito fácil.
O treinador é este, as ideias sao estas, "- nao ando aos zigue-zagues" para quem ouviu a conferencia de imprensa!
Vamos apoiar o nosso treinador, vamo nos por do lado dele e pensar as coisas. Este jogo foi decidido por detalhes: primeiro golo nasce de uma falta que nao é falta; Helton mete o frango dele(qd joga de calçoes é sp frangalhada); Segundo golo fora-de-jogo!
A confiança ganha-se com vitorias e estamos a passar por um ciclo complicado.
Eu nao tirava o lucho, mas a substituiçao foi aplaudida, qd se esperava muito mais do licá, perde-me uma bola que dá origem ao contra-ataque e consequente falta e golo. Foram detalhes. Futebol é isto!
Agora virem dizer que parece que treina o Paços; Nao tem capacidade; mentalidade de equipa pequena, é tudo injusto! Pelo menos para já...

Abraço
prata disse…
Uiii. Logo vi que este post ia afectar um certo tipo de portismo. Vou chamar-lhes os assobiadores de sofá! Seres tão iluminados, que lançam frases como «James afinal não era assim tão bom», como as de que todos os jogadores caros têm de ter o rendimento de Jackson e de Hulk e, a melhor de todas, «jogamos à Paços de Ferreira». Quê? E eu é que não percebo nada de futebol...

A questão de James é a que mais me custa... Já ouvi isso a muitos portistas. É óbvio que não voltou a atingir o pico de forma depois da lesão. Isso notou-se imenso na equipa e só demonstra a sua importância. É um jogador de 22 anos(só mais ano e meio que Quintero)de características muito raras. Se não percebem... Ranieri pelos vistos também não percebe.
prata disse…
Taqui o Lucho pediu ao banco para sair. Eu vi.
Lamas disse…
Eu também aziei quando vi que a opção foi o Lucho e como ele saiu a passo, também pensei que ele próprio tinha aziado... mas se foi por lesão, ok... senão preferia mais nervo/garra (Lucho) do que frescura (Defour)...

Quanto ao post gostei...

Daquilo que posso criticar o PF, é o que vejo... e aquilo que nada tem a ver com treinamento e afins... é a forma de actuar no banco... dou o exemplo do que pretendo num jogo em que ganhamos... em Setúbal, após o penalty em que o redes é expulso, ele tem logo (antes do jogo recomeçar) de meter outro gao em campo (naquele caso o Quintero) para transmitir a ideia aos jogadores que é para matar o jogo logo de seguida... é este tipo de intervenção que eu acho que ele tem falhado... só meteu o Quintero passados longos 10 minutos e o gajo entrou e fez...
Lamas disse…
Mas mais do que a substituição dar ou não dar, é a mensagem que ele passa aos jogadores com as substituições no momento certo, reactivas a acontecimentos e não deixar o jogo andar...
Perdemos um jogo contra uma grande equipa ...
Nada está perdido !

Quem pode garantir que não somos capazes de ganhar ao Zenit ,
no Dragão e ao Atlético , em Madrid ?


Abraço
Nós não percebemos o valor do James, mas há quem também não perceba o valor do Quintero. Ainda bem que li este post, afinal está tudo bem. Foi só um susto.
eumargotdasilva disse…
Gostei muito do post. A discussão tem de ser feita com ideias estruturadas e não com emoções. Mas,vê-se bem nos comentários que não dá para pedir que as pessoas pensem sem ser com soluções. A ideia é : "se eu não der logo uma solução sou acusado de não saber futebol, e isso eu sei mais que qualquer outro..."
Enfim, eu digo com todo o o à-vontade que não sei nada de futebol, nem quero saber. Quero ver os jogos, como quem vê um quadro do van Gogh, ou lê o Fernando Pessoa. Sei sempre se gosto ou não. Sei sempre porque gosto ou não. Mas não me venham com o movimento modernista, com as pinceladas fragmentadas, o 4/3/3 o 4/2/1/3, triângulo invertido, ; o Varela, o Quintero, o PF não observa os adversários blábláblá...

Faz-me sempre lembrar aqueles grupos que se amontoam à volta dos que estão a jogar às cartas. Os que estão de pé, sabem sempre mais, e teriam ganho aquilo tudo...
Anónimo disse…
A ignorância sempre foi uma benção.