Alguém sabe do que ele está a falar?

Ok, o título não é de grande originalidade, mas que querem se é de Octávio que vamos falar? O palmelão deu uma entrevista muito engraçado ao 'i'. Vamos ficar com algumas (muitas) pérolas...

Sobre António Oliveira: Quando o FC Porto foi campeão nacional em 1978, ao fim de 19 anos de seca, eu e ele jogávamos juntos. Você nem imagina o que ouvi da boca dele! No jogo do título, com o Benfica, a três jornadas do fim, eles marcaram primeiro, num autogolo de Simões, logo aos três minutos, e o Oliveira disse--me que aquilo tudo ia dar para o torto, que havia um cemitério debaixo do Estádio das Antas, que teríamos um azar eterno. Mas empatámos aos 83', por Ademir, e sagrámo-nos campeões na última jornada [4-0 ao Braga, com golos de Oliveira, Octávio e Gomes, 2]. O Oliveira sempre foi assim, um complexado, com a mania do outro mundo. E nem lhe conto o que ele fez para festejar o título. Enquanto os jogadores esforçados, batalhadores e guerreiros do FC Porto festejavam o título nacional de 1978 em suas casas e junto das suas famílias, porque na altura não havia cá autocarro de dois andares nem passagem pela câmara municipal, o Oliveira exibia-se na Avenida dos Aliados, com o seu descapotável. Ao seu lado, Fernando Gomes, o bibota, e Quinito, uma jovem promessa em quem Pedroto sempre depositou enorme esperança, sem os devidos resultados. E eles os três a curtir o título num descapotável. Eu e o Oliveira sempre tivemos filosofias de vida e desportivas completamente incompatíveis.

E quando o Oliveira era seleccionador e o Octávio treinador no Sporting? Não nos entendíamos. Mas a culpa é dele; evitava-me. Certa vez, mandou um adjunto dele chamado Joaquim Teixeira, que até é meu amigo, ao Sporting e ele lá apareceu a perguntar por mim, na 10-A [a mítica porta por onde entravam e saíam os jogadores do Sporting, antes e depois de cada treino e jogo]. E eu disse ao porteiro que devia ser engano. Se era o adjunto da selecção nacional, devia querer falar com o adjunto do Sporting e não comigo. Por isso indiquei o meu adjunto Vítor Damas para falar com ele. Então o seleccionador nacional não quer falar comigo sobre os jogadores do Sporting e manda o adjunto?

Artur Jorge e os adjuntos que devia escolher na Selecção: ele disse-me ao telefone: 'Não quero o Jesualdo, ele que vá para outro lado, para porteiro, sei lá. Aqui não. Quero o Octávio.' Mas, no meio desse convite, o Artur Jorge sugeriu-me, como sabia que havia um quid pro quo entre mim e os Oliveiras, que eu concedesse uma entrevista a dizer bem deles para facilitar a coisa. E eu nada.

Juary no dia da final de Viena: Ai o Juary. Bom rapaz mas caiu em algumas tentações. Era o nosso Joker, aquele que entrava e desbloqueava um empate. Mas ele era danado para a brincadeira. Então quando o vi a descer as escadas de manhãzinha, no dia do jogo com o Bayern Munique, percebi logo que ia haver confusão. Fui atrás dele e apanhei-o na sauna, em animada conversa com um empregado do hotel, que também era brasileiro. Dei-lhe uma daquelas broncas. Ele ficou cá com uma azia.

Era o Octávio que controlava os jogadores? Ia a casa deles e telefonava-lhes? Ainda não havia telemóveis, senão... Ah, ah, ah! A única vez que fui a casa de alguém foi à do Futre. Sabe, ele gostava muito de dormir e, uma vez, disse ao enfermeiro do FC Porto que não ia fazer o tratamento à tarde. Quando soube disso, arranquei para a casa dele, tirei-o da cama com o toque de campainha e disse-lhe muito simplesmente: "Olha Paulo, vou ali beber um cafezinho e quero ver-te nas Antas quando chegar lá, daqui a nada." Dito e feito. De resto, nunca fui um espião nem nada parecido.

E quando o Jorge Costa atirou a braçadeira para o chão? Quem? Ah, a fotocópia. Pois é, a fotocópia. Por muita qualidade que tenha, a fotocópia nunca é igual ao original. Nesse aspecto, o João Pinto [capitão do FC Porto nos anos 80 e 90] ganha ao Jorge Costa por 200 a zero. O problema do Jorge Costa não era só um. Chamavam-se Jorge Andrade e Ricardo Carvalho. E depois Ricardo Costa, e depois Bruno Alves. Mas sobretudo Ricardo Carvalho, que era emprestado aqui e ali e nunca se fixava no FC Porto. Quem o segurou lá? Ah pois é [Octávio Machado]! E diga-me lá se o FC Porto não o vendeu ao preço de um avançado? Porque 30 milhões de euros para um defesa é muito. Mas o Jorge Costa é mentiroso. Nesse dia da braçadeira, não falei com ele mas ele disse à imprensa que tinha empatado 0-0 [numa alusão ao resultado do jogo aquando da substituição]. Mentira, ganhámos 3-0. E para quê aquela coisa toda? Ele no jogo seguinte, com o Celtic, para a Liga dos Campeões, foi titular. Portanto não perdeu o lugar naquela tarde, com o V. Setúbal. Foi depois, e porque os outros dois davam-me mais garantias. Mas disse-lhe a ele, à frente de todos os jogadores, no balneário, para explicar o gesto da braçadeira. E o Jorge, nada.

Jorge Costa e as provocações: Ele era conhecido como o bicho. Eles [companheiros de equipa] lá saberão por quê! Eu não vi nada do bicho. Há para aí muitas espécies de bicho. Ele provocava-me indirectamente. Uma vez foi à selecção com o Capucho, para um jogo fora do país. Disse-lhes para dormirem em Lisboa e só voltarem ao Porto no dia seguinte. Não fizeram nada disso. Chegaram ao Porto a altas horas da madrugada, via Lisboa, e lá estavam no treino, às 8h30. Isto são pequenas provocações. Manda quem pode, obedece quem deve. Tínhamos de preservar a capacidade de recuperação dos dois e eles provocaram-me. Não desejo que ele [agora treinador do Olhanense] tenha um Jorge Costa no seu plantel. Por isso é que o Pintinho [Pinto da Costa] recuperou o João Pinto e outras antigas glórias, como o Fernando Gomes, o Vítor Baía, o Rui Barros. O Pintinho foi buscar os pesos-pesados para ver se levanta o FC Porto.

FC Porto de Pinto da Costa ou de Pedroto: De uma vez por todas, ponham isto na cabeça: o FC Porto de hoje é o FC Porto do Pedroto. Foi ele que criou os alicerces deste clube, e não o Pinto da Costa. Alimentaram, e aqui eu também faço uma autocrítica, a criação de um Deus, de um ser todo-poderoso. Todos pensávamos que ele ia resolver todos os problemas, mas não. Transformou-se e já não é aquele senhor com quem travei batalhas importantes no final dos anos 70 e início dos 80.

Transição para José Mourinho: Sim, claro, então tinha de dar entrada ao Special One [José Mourinho], que mal entrou disse que o FC Porto só tinha cinco jogadores. Então estou ilibado de qualquer acusação de maus resultados. Não ganhei, porque só tinha cinco jogadores. Mas ganhei, sim senhor. Na época anterior, o FC Porto falhou a Champions, eliminado pelo Anderlecht. Na minha época, fizemos 16 jogos na Champions e ganhámos a Supertaça portuguesa, os dois objectivos traçados na pré-época. Conseguir isso com cinco jogadores, como diz o Special One, é muita fruta.

E no Sporting, quem era a ovelha negra? A parte má daquele clube era o Norton Matos e Cª. Quando cheguei ao Sporting, os jogadores iam para os treinos como se fosse uma escala para as inaugurações das lojas, tantos eram os convites que recebiam para inaugurar isto, apresentar aquilo. Acabei com isso e sugeri aos jogadores que negociassem prémios de jogo por vitória. Eles aceitaram de olhos fechados e isto define um grupo. Na pré-época seguinte, Simões de Almeida [dirigente do Sporting] e Norton de Matos foram a Lamego negociar os tais prémios com os jogadores, à minha revelia. Na primeira jornada da Liga dos Campeões, ganhámos 3-0. Sabe a quem? Ao Mónaco! Sabe quem jogava lá? Vou recordá-lo: Barthez, Deschamps, Henry, Trezeguet. No dia seguinte, o Norton entra no balneário e pede-me para baixar os prémios de jogo na Liga dos Campeões, porque os bons administradores do Sporting ofereciam tanto dinheiro nos prémios de jogo que a própria qualificação para a fase seguinte dava prejuízo. Mas isto cabe na cabeça de alguém?

Sá Pinto e a agressão a Artur Jorge: Nós [do Sporting] íamos para Marrocos participar num torneio. Tivemos treino de manhã e havia ali um hiato para ir a casa, buscar a mala e encontrávamo-nos aeroporto. A caminho do aeroporto, ouço na rádio que o Sá tinha agredido o Artur Jorge. O Sá, ao contrário do que muita gente pensa, foi ao Jamor a convite do psicólogo da selecção para se despedir dos jogadores. Chegou lá e passou-se com aquela coluna de opinião do "Record" (um artigo a dizer que o Sá Pinto não era chamado porque se incompatibilizava com os colegas, que se irritava facilmente, que atirava bolas para a fora). Quando as coisas se proporcionam, quando as coincidências são evidentes, é de mais. E o Sá, indignado, explodiu. Apanhou um ano. Os outros andam aí, à solta. E até jogam pela selecção nacional. É uma vergonha.

Comentários

Toni Silva (Baresi) disse…
Não posso acreditar que o Octávio Malvado deu a entender que o nosso Juary poderia ser paneleiro?? Não acredito, mas não ponho as "mãos no fogo"...

Este Malvado é cá uma "peça"....
Silvestre disse…
E poderia ir por aí fora a deitar abaixo muitos mais, é o típico ressabiado que nunca terá ultrapassado alguns traumas sejam eles quais forem. Típica ratazana que diz que sabe mas nunca sai nada dali a não ser estes factos escolhidos a dedo para se excluir de qualquer confusão. Como diz o ditado "é pequeninho e fudidinho". A verdade é que ninguém lhe dá crédito e anda lá às turras com as laranjas.
prata disse…
«Na minha época, fizemos 16 jogos na Champions e ganhámos a Supertaça portuguesa, os dois objectivos traçados na pré-época. Conseguir isso com cinco jogadores, como diz o Special One, é muita fruta.»

Os dois objectivos da pré-época? Mal estávamos se esses fossem os nossos objectivos. Nesse caso não há razões para mandar embora o Juju...

Não gosto deste gajo. Deve ser muito triste viver naquele seu mundinho do 'estão todos contra mim'.
miguel87 disse…
Temos que reconhecer que este tipo de "cromos da bola" faz falta ao futebol! Para o bem ou para o mal, estas estórias são pérolas do nosso futebol.
Além do mais, esta figura foi um defensor aguerrido da nossa camisola durante largos anos.

Um aparte, e para quem gosta de futebol, recomendo os textos de hoje n'a bola do MST (a parte sobre o Messi) e do jornalista/colunista António Simões sobre Hulk (podem lêr no blog Dragão até á Morte).
E já agora, a assistência com as costas do Zlatan, que pode ser vista no maisfutebol!
É por algumas destas que vale pena ver futebol!
Pispis disse…
Eu gostei do Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa e Bruno Alves darem mais garantias que o Jorge Costa, e mesmo depois de ter atirado a braçadeira para o chão foi titular contra o Celtic... O respeitinho pelo capitão é mt bonito :-)

Tb acho inacreditável criticar o Jorge Costa e o Capucho por estarem no treino às 8.30 da manhã qd podiam ter passado a noite em Lisboa no Elefante Branco (onde os dirigentes e ex-árbitros ligados ao Benfica vão à fruta) :-)

Curioso referir que o Sá Pinto ficou indignado quando leu no Record que se irrita facilmente e que se incompatibilizava com os colegas... Q injustiça dizerem isso do Sá :-)
prata disse…
Essa do Sá Pinto escapou-me. Que delícia!
riskolas disse…
Pis, não foi para o Celtic!

Ele foi para o Charlton Athletic, para ser o "TANK"! :)

Este Octávio também gostava de jogar com 3 trincos... mas contratá-lo deve ter sido a melhor decisão de sempre do Pinto da Costa!!! Se ele tivesse contratado outro treinador qualquer não o podia despedir a meio do campeonato para ir buscar o Mourinho!!! :):):)
Penta disse…
caríssimos,

acreditem ou não, infelizmente (para mim) passei a saber o nome do cromo em questão a propósito do episódio na Madeira, com o Gomes - o meu ídolo na altura e já abordado num 'post' anterior.

nunca lhe desculpei tamanha desfaçatez, por muita razão que lhe assistisse na altura. o Gomes era o ícone do Clube e aquela "ratazana" tratou-o como lixo. desde aí, perdi-lhe o respeito.

saudações PENTACAMPEÃS!

PS: «então é assim»: a) RTP1 (21h) - entrevista com o Pintinho; b) SIC (21h) - entrevista de Miguel Sousa Tavares ao Orelhas; c) SIC-NOTÍCIAS (22h) - entrevista ao justiceiro da Liga.
Pispis disse…
Crl Riskas, eu disse q ele foi titular no jogo a seguir contra o Celtic :-)
Anónimo disse…
A "Culpa" é sempre dos "Outros"...

o "Malvado" é o idolo do blogue ?!
Anónimo disse…
Não é este que agora também aparece no "benficatv" ?!
Lamas disse…
Jasus... só agora é que li com atenção... isto é que foi rasgar, principalmente no "Bicho" (eles lá sabem porque lhe chamam isso - jasus, só rasgar)...

A do Juary já sabia, acho que depois o gajo até "chorou" para o Octávio não ir "bufar" ao Artur Jorge...

Gostei da do Futre e a do Sá Pinto está demais... :)

As imagens tornam o post mais atractivo... grande qualidade editorial... :)