Dragão de Ouro


Valeu a pena ver a cerimónia dos Dragões de Ouro para ver aquele momento simbólico de passagem de testemunho entre Madjer e Brahimi. Por testemunho entenda-se 'varinha mágica', porque é de mágicos que estamos a tratar. É interessante constatar que a magia de Madjer era decisiva, mesmo na selvajaria que era o futebol português nos anos oitenta. Pois, hoje em dia, Brahimi também brilha perante um Boavista e uma arbitragem que também fazem lembrar esses tempos. 

Quanto aos lenhadores do Bessa, nada que não fosse de antecipar. Era escusada tamanha complacência de Hugo Miguel. Este foi talvez o fator que mais equilibrou o jogo no primeiro tempo. também não ajuda a falta de qualidade de passe e de posse que temos no meio campo, com a dupla Danilo e Herrera. Com estes dois em campo, torna-se mais importante o papel dos mágicos das alas, nomeadamente Brahimi, que é o que retém a bola com mais qualidade. Assim o jogo torna-se mais previsivelmente lateralizado, apesar da imprevisibilidade que estes dois trazem a qualquer jogada em que participam. Em suma, a primeira parte do jogo não foi boa porque não se jogou pelo miolo, quer pela complacência do árbitro com os lenhadores boavisteiros, quer pela inépcia de Herrera e Danilo em receber a bola dentro do bloco adversário. Tudo mudou com o primeiro golo. Aboubakar desceu para fazer o papel de médio e logo desmontou a defesa adversária. A partir daí, tivemos mais espaços que a equipa em geral e Herrera em particular, passaram a ocupar com maior eficácia. Apesar de um ou dois percalços na nossa área, era uma questão de tempo até ao resultado se avolumar. Concretizou-se com uma biqueirada de Marega. Destaque também para o desarranjo táctico que Jorge Simão apresentou na segunda parte do jogo. É um mister que não aprecio e é sempre bom ter razão e vê-lo a fazer implodir a sua equipa com apenas uma substituição.

Mais uma vez, tal como aconteceu em quase todos os jogos fora de casa, saí com a sensação de que teríamos empatado ou perdido um jogo com estas características e com aquela primeira parte, com o FCPorto de Nuno Espírito Santo. É impossível de provar mas, ainda assim, dou-o como adquirido. De facto, mesmo com estas bizarrias que nunca vou entender como as opções de Sá por Iker e Herrera por Oliver, este FCPorto de Sérgio Conceição parece ter uma disposição mental e uma atitude competitiva diferentes e isso nota-se nas reacções aos resultados menos positivos ou a primeiras partes menos conseguidas.

Individualmente, dou o MVP a Brahimi que continua a ser o farol da equipa, apesar de jogar a partir da ala esquerda. Mais um grande jogo do nosso mágico. Aboubakar também voltou a estar muito bem e foi decisivo na jogada que desbloqueou o jogo. Gostei também das exibições de Ricardo e Corona. Este último, a jogar assim, pode dar ao Sérgio mais confiança para a aposta em dois médios e dois alas, nomeadamente no jogo de quarta-feira. Marega continua a ser Marega. Jogo aparentemente fraco mas em que é, mais uma vez, decisivo. Habituem-se! Gostei também da entrada de André André que, esta época, tem sido o nosso décimo segundo jogador que mais traz à equipa. Devia ter entrado 10 minutos mais cedo. Pela negativa, não tenho grandes destaques. A dupla de centrais esteve uns furos abaixo do resto da equipa, sobretudo Felipe. Esta dupla é um dos esteios da equipa e são a melhor herança do  anterior treinador. Mas, com um meio-campo mais 'pezudo' como o que temos actualmente, notam-se muito mais as dificuldades de construção e o nervosismo aumenta.

A má exibição na Alemanha tornou o resultado da próxima quarta-feira num jogo absolutamente decisivo. Qualquer resultado que não seja a vitória deixa-nos fora. Tirando Sá e Herrera, espero que o onze se repita.

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