Finalização
«Há jogos assim... A bola não quis entrar... O melhor jogador deles foi o guarda redes... Podíamos estar ali mais uma hora, que a bola não iria entrar... Faltou o toque final...». Já conhecemos todas as frases habituais após estes jogos de sentido único. Nenhuma ajuda a fazer com que a digestão seja melhor. Mais que frases de circunstância, importa ter o discernimento de procurar motivos além da escapatória da falta de sorte. Proponho-me a dar uma ajuda.
Comecemos pelo adversário. Se há um mérito que se tem de dar a este FCPorto de Conceição é que até Luís Castro muda a sua maneira de jogar, quando nos defronta. Foi um Vitória bem mais próximo do Boavista, do que o habitual (eu sei que eles irão detestar esta comparação). Mas se Benfica e Sporting o fazem, porque não havia de fazer Luís Castro? Sérgio tem-se vindo a queixar que todos os treinadores adaptam a sua equipa à forma de jogar do FCPorto, ou ao que eles pensam que é a melhor forma de nos travar. Ou aparecem 3 centrais, ou um meio campo ultra-povoado... Uma coisa é
certa: há sempre pianistas de carreira dispostos a tocar bombo, como se
fosse o seu instrumento desde pequeninos. Conceptualmente, eu prefiro sempre modelos como o de Conceição que vão mudando ao longo do jogo e não ao longo do campeonato e em função do adversário. Mas teremos de tentar perceber porque é que esta tendência coincide em todos os nossos adversários. A ideia generalizada é que o FCPorto de Conceição é o FCPorto de Felipe, Danilo, Soares, Herrera e Marega. Uma equipa fisicamente imponente, implacável nos duelos e que procura o jogo directo. Uma equipa temível em termos de intensidade, mas mais controlável ao nível da técnica individual. E é para isso que se preparam.
Há aqui alguns erros de concepção do nosso jogo, mas há um ponto em que tendo a concordar. Há muitos, demasiados, jogos em que a nossa finalização deixa muito a desejar. Vínhamos chamando a atenção para esse facto naquela série fantástica de vitórias, que tivemos recentemente. A equipa tem de ter uma melhor capacidade de tirar tranquilidade do facto de estar a ser superior. Quer essa superioridade se manifeste no resultado, quer nos jogos de sentido único como o de ontem ou o do Bessa. E porque é que raramente consegue? Falta de qualidade de finalização na nossa frente de ataque. É gritante em Marega, é intermitente em Soares, depende muito do estado mental de Aboubakar, mas também se tem notado em Brahimi e Corona. Em certos casos são razões de técnica individual, noutros é falta de serenidade, mas o problema existe e tem de ser atacado. Assim, a táctica do adversário é a de povoar as zonas recuadas e esperar que nós falhemos. Parece-lhes mais plausível que o FCPorto cometa erros na frente do que atrás. Sempre dá um pontinho...
Mas o FCPorto que tem jogado, é um pouco diferente. E aqui pretendo entrar numa opinião pouco consensual. Marega tem sido fundamental neste FCPorto de Sérgio Conceição e isso faz com que raramente abdique dele. Mas este FCPorto que tem jogado parece ter mudado o paradigma da suposta maregodependência. Com um meio campo formado por Oliver e Herrera, e com Brahimi e Corona em boa forma nas alas, a equipa hesita mais em jogar directo nos avançados. Quantas vezes temos visto Marega a ficar agastado com os colegas por estes não respeitarem muitas das suas enésimas tentativas de ataque à profundidade? Até faz com que ele venha muito mais vezes em apoio. A tendência é para que a equipa tenha uma maior capacidade de reter bola com qualidade e esperar pelo melhor momento para recorrer a Soares o Marega. Temos visto muito mais penetrações na área, muito mais remates de longe e muito mais gente a surgir em fase ofensiva e de finalização. Basta ver o espaço que Alex atacou ontem num dos lances mais perigosos da primeira parte e o lance do mergulho de Corona na segunda. Será que dependemos de Marega para este estilo de jogo? Tenho a sensação que a resposta é: cada vez menos. E assim chegamos à opinião impopular: Esta lesão de Marega pode não ser assim tão má. Calma! Arrumem as tochas e as forquilhas! Primeiro vai dar descanso ao jogador, que precisa. O que pretendo dizer é que poderemos apostar numa frente de ataque diferente com a inclusão de Otávio, por exemplo. Podemos muscular mais o meio campo com o regresso de Danilo e o libertar de um dos médios ou até os dois. Até poderá aparecer mais rápido o nosso último reforço, Loum, que tanto prometeu na primeira volta do campeonato. E esta até foi a táctica que nos valeu a passagem aos oitavos na Champions. Todas estas alterações poderão dar mais qualidade à nossa posse de bola e Marega poderá regressar, esperemos que brevemente, e reintroduzir-se numa equipa mais eficaz nas várias fases do jogo.
Falando brevemente do jogo, foi doloroso do princípio ao fim. Tivemos sempre o controlo, tivemos oportunidades de golo quando estávamos tranquilos no jogo e quando já ninguém conseguia esconder a irritação com o facto de a bola não entrar. Até nessa altura se sucediam as ocasiões de perigo. É mais um daqueles resultados absurdos que não pode abalar a confiança porque não se coaduna com o que se passou no jogo. Já havia acontecido na Taça da Liga e temos de retomar o caminho das vitórias novamente e com o mesmo vigor que temos estado a demonstrar.
Individualmente, gostei das exibições, de uma forma geral. Mais uma vez, dou o MVP a um dos médios, Oliver. Estiveram os dois muito bem, mas pareceu-me que Oliver esteve um pouco melhor nas recuperações e no lançamento do ataque. De resto só não gostei de dois jogadores. Marega estava a fazer uma exibição paupérrima até se magoar. Até acho que deveria ter saído para o lugar de Otávio. Mas era uma decisão difícil visto que não havia ninguém no banco para jogar na área. Também não gostei de Fernando Andrade que não fez melhor que o colega que substituiu. Esta avaliação mudava muito se eu ponderasse de forma superior a finalização. Assim, dou uma nota positiva generalizada.
Por último, duas breves notas. Se não empatámos pela arbitragem, acho que podemos guardar as nossas queixas para outras alturas. Mas, se vamos criticar, temos de dizer porquê. Foi pelo critério disciplinar ridículo, foi pela falta sobre o Otávio, etc.. Tem de se se ser concreto. É uma cartada que tem de ser cirúrgica, para não cair no ridículo dos outros. Por falar em cair no ridículo, a Sport Tv dá aos comentadores a incumbência de nomear o homem do jogo. O FCPorto cedo disse que não participaria nessa fantochada e parece que antecipou convenientemente o ridículo desta invenção da operadora. Ontem Luís Freitas Lobo e Companhia elegeram Wakaso para MVP. É isto que o Luís quer para o futebol? O gajo dos poemas e das odes à bola? Em primeiro lugar Wakaso foi de longe o jogador mais faltoso em campo, e nem foi dos melhores do Vitória. Vi grandes defesas, vi jogadores a tirar em cima da linha e não vi Wakaso em nenhum desses lances. Apenas vi que tentava dar lenha, muitas vezes com sucesso, a cada vez que era ultrapassado e foram muitas vezes. Em jogos deste tipo, só há duas soluções para MVP: ou o guarda redes da equipa que levou com a avalanche ou um dos melhores jogadores da equipa que realmente tentou ganhar.
A vantagem pontual que fomos acumulando serve para estes jogos em que o resultado não premeia a exibição. Seria mais preocupante se fosse em resultado de uma má exibição. Quem paga é o adversário seguinte! Já trouxemos o seu melhor jogador e agora temos de trazer os três pontos de Moreira de Cónegos.
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