Sete pecados capitais do FCPorto 2013/2014 – O defeso
Tal como referi no último artigo, a certa altura criou-se
uma corrente que dizia que o problema era de jogadores. Faltavam jogadores que
dessem à equipa a possibilidade de transformar um sistema medíocre num sistema
eficaz. Paulo Fonseca estava seguríssimo e faltava uma opção desequilibradora
nas alas, faltava um verdadeiro 10 que fizesse o que Lucho ‘alegadamente’ não
fazia e faltava um patrão para a defesa que acumulava erros. Tal implicava
obviamente a manutenção dos jogadores nucleares da equipa. O objetivo era
salvar a época com o título nacional que estava ao alcance e teria de ser feito
um esforço extra para tal.
Logo à partida, de acordo com a estratégia descrita por
Angelino Ferreira de crescente redução de gastos e de evolução sustentada da
redução da dívida e dos gastos que dela resultam, tornava-se difícil imaginar
uma contratação cara e sonante. Se era para recusar todas as propostas por
Jackson, Mangala e Fernando…
Por um lado, não se vendeu ninguém, tendo saído Angelino
aparentemente por causa disso. Por outro, substituímos um salário elevado por
outro (Lucho por Quaresma) e um elevado por outro menor (Otamendi por
Abdoulaye). Assim, tivemos duas entradas
em Janeiro e uma saída. Chegou o ala de qualidade extra e regressou Abdoulaye,
muito elogiado pelo Presidente em entrevista ao Porto Canal. Saiu Lucho. O
resto teria de se resolver com o plantel existente. Logo aqui dois movimentos
contraditórios. Por um lado uma aposta na qualidade e num jogador de créditos
firmados para a ala e, por outro, uma opção de risco para a defesa com um
jogador que nada provou e para outra para o meio campo. Os jogadores em quem se
apostou para substituir Lucho tardavam em provar valor. Uma aposta segura
contra duas de risco.
Além disso a própria contratação segura tinha algum risco. Quaresma
tem aquele extra de qualidade de que todas as equipas precisam, mas nunca foi
um jogador fácil de domar e muito menos quando a liderança técnica não é forte.
Além disso, é um jogador para render mais uma ou duas épocas o que tornava a
contratação arriscada e desadequada ao nosso modelo de valorização constante do
plantel para obtenção de mais-valias. Não costumo compreender estas
contratações. Lucho foi uma excepção de sucesso mas, mesmo assim, ‘torci o
nariz’ a Quaresma. Julgo que, dadas as circunstâncias e para minha surpresa,
Quaresma até trouxe atributos que beneficiaram a equipa e que evitaram um
descalabro ainda maior. Não entro nesta corrente, mal intencionada, que dizia
que ele traz qualidade mas destrói a equipa. O objectivo era tirá-lo do Mundial
e funcionou. Mas confesso que não percebi esta obsessão com o ala. Se a equipa não
jogava o suficiente, era por trazermos um jogador que resolve sozinho que se
resolveria os outros problemas? Era óbvio que, à primeira vez que Quaresma não
resolvesse, viria o resultado negativo. Além disso, se o plantel tinha soluções
que chegue para o meio-campo porquê insistir num sistema de alas? Vejam se o
Atlético de Madrid, a equipa surpresa da temporada e com o melhor sistema de
jogo, jogava com alas? Não digo que teríamos de jogar assim, mas quero apenas
dar um exemplo de como o Treinador e o seu sistema devem aproveitar o plantel
que existe e não esperar pelos retoques do defeso.
Não me quero alongar muito sobre a opção de troca de
Otamendi por Abdoulaye. Posso apenas dizer que é um erro enorme de julgamento
de potencial. É raro, mas neste caso os adeptos concluíram bem cedo que a
solução era desastrosa e tinham toda a razão. Numa defesa que acumula erros,
substituir o único que tem características de ‘patrão’ por um jovem sem provas
dadas e que está convencido erradamente que é o Beckenbauer africano, só
poderia dar asneira. Por muito que Otamendi não estivesse a fazer uma boa época
e por muito que tivesse mercado, não se percebe.
Quanto a Lucho, Desenvolverei em maior pormenor no próximo
artigo.
Comentários
Quanto a Lucho, não foi a perdida de um jogador, foi a perdida de um líder que tanta falta fez numa época como esta... Lucho sai com tudo em aberto, até o campeonato, pois tínhamos ficado a 3 pontos do Benfica com a derrota na Luz... mesmo que ele continuasse podíamos não ter o sucesso que alvejávamos, mas possivelmente não cairíamos naquela espiral descendente sem retorno em todas as competições que ainda estávamos a disputar...