85 pontos


Confirma-se o que já todos esperávamos: não conseguimos alcançar o principal objectivo da época. Isso torna esta época num fracasso. Não há como fugir a esta conclusão e não me parece que alguém o vá tentar fazer. Nestas alturas começa o período de balanço, isto apesar de ainda haver um título para ganhar. É inevitável visto que toda a época é planeada com vista a um objectivo, que já está decidido. Normalmente, nestas alturas, destacam-se duas correntes que considero nocivas para uma discussão frutuosa e que permita a estruturação da próxima época. 

Há a corrente do seguidismo de Pinto da Costa que, acriticamente, se prontifica a absorver a opinião do clube. Seja ela a de defender o treinador e o seu trabalho, como é o caso este ano, seja a de criticá-lo abertamente, como já aconteceu com Paulo Fonseca, NES e sobretudo Lopetegui. Se este ano estamos com Conceição, então a culpa tem de estar noutro lado. No polvo, nos árbitros, nos adversários que facilitam contra outros candidatos, etc.

Depois temos a corrente oposta. Perante o carneirismo dos acríticos, surgem os que criticam tudo e todos, por tudo e por nada. Vão à qualidade do treinador, que só joga de chutão para a frente, à qualidade dos jogadores, que só estão no FCPorto porque a SAD esbanjou os rios de dinheiro, que entraram nos últimos 20 anos, em caprichos e em empresários sanguessugas, como o filho do presidente...

Isto exposto assim, de forma tão extremada, parecem posições inaceitáveis. Mas reflictam se não conhecem uma série de portistas que, nestas alturas, se aproxima de uma ou da outra corrente? Obviamente que a verdade anda lá pelo meio. Mas este ano, excepcionalmente, eu tendo a aproximar-me mais de um dos lados. Por um motivo em especial e que são os 85 pontos conquistados e outras estatísticas confluentes com esta, como a média de golos marcados e sofridos, a comparação entre a primeira volta e a segunda, etc. Poderão consultar estas e outras estatísticas seguindo a excelente conta de twitter do @BaiLinhaeCruzaps.@BaiLinhaeCruza://twitter.com/BaiLinhaeCruza?s=. Está lá tudo. A questão que me faz pender para um dos lados é o de reconhecer que este não foi um ano normal. Foi um ano em que chegámos aos quartos de final da Champions, em que voltámos à final da Taça da Liga, perdida nos penáltis, e em que vamos discutir a final da Taça de Portugal. Acresce que, no campeonato, fizemos uma pontuação que daria para ser campeão em grande parte dos anos, tendo a ficado a apenas 3 pontos da pontuação do ano passado, uma das melhores da história do Campeonato e do FCPorto. O exercício correcto a fazer nesta altura é o de perceber como esta excelente pontuação de 85 pontos não chegou para atingir o nosso principal objetivo. E convém fazê-lo com calma e sem atalhos porque há culpas próprias e condicionantes externas, demasiado relevantes para conclusões simplistas como: «merecemos porque perdemos uma vantagem de 7 pontos». Até posso dar uma explicação curta para isso. Foi uma contingência do campeonato porque, em 4 jornadas, jogámos em Alvalade, em Guimarães e em Moreira de Cónegos. Todos deverão recordar o inexplicável perdão de expulsão a Bruno Fernandes, por Hugo Miguel, o festival de golos falhados em Guimarães e a lesão de Marega que o tirou desse jogo e dos seguintes, deixando-nos apenas com Soares como opção para a frente. Viram como foi fácil desculpabilizar a equipa? Tão fácil como apontar a crítica. Temos de ir para além dos lugares comuns e das conclusões fáceis. Tentaremos fazê-lo no rescaldo da época que arrancará a partir da próxima semana.

Vamos ao jogo! Foi bastante estranho... Em primeiro lugar porque a equipa do FCPorto e todos os adeptos sabiam que o campeonato estava entregue. Mesmo que fôssemos ingénuos, bastava ver o que se passou no campeonato nas últimas semanas para perceber o que se iria passar. Por outro lado, tínhamos um Sporting que era uma incógnita. Será que vai poupar jogadores? Como irá reagir perante esta liberdade de não ter de lutar por nenhum objectivo? Em relação a jogadores, pouparam dois e nem foram os mais importantes, visto que Mathieu e Bruno Fernandes jogaram. Por outro lado, para uma equipa que não tinha nada a ganhar ou a perder, estiveram bem mais preocupados em fugir da segunda hipótese, do que procurar a primeira... A expulsão na primeira parte tornou clara a intenção que os primeiros minutos de jogo já faziam adivinhar. O FCPorto conseguiu lidar bem com as despesas do jogo mas estava a falhar demasiado na definição, algo que se tem repetido ao longo de todo o campeonato. Para compor o cenário, já de si irritante, o Sporting chega à vantagem no único que remate que fez no encontro. Apelou-se mais uma vez à capacidade de reacção da equipa. Esta é uma das características mais admiráveis neste FCPorto de Conceição e conseguimos dar a volta nos minutos finais. Os golos surgiram de bola parada, e esta dependência destes lances é mais uma das críticas estapafúrdias que se faz à equipa, mas poderiam ter surgido antes em várias outras situações. O resultado acabou por ser justo e esta é uma percepção que temos dificuldade em partilhar ao avaliar a classificação final do campeonato.

Individualmente, dou o MVP a Danilo. Além das suas funções habituais, foi um dos nossos jogadores mais perigosos e está em quase todos os lances de perigo. As notas foram todas médias e gostaria de destacar apenas que Otávio estava bem antes de sair e que Brahimi entrou bem e com bom impacto no jogo. A solução Manafá ainda nos expõe a demasiados calafrios e tem de ser melhor acautelada em jogos contra adversários de maior valor. Corona esteve bem mas, além da expulsão desnecessária, perde a bola que dá o golo adversário. Não pode ter nota positiva. O destaque maior foi o golaço de Herrera que funciona como uma óptima despedida do Dragão. A propósito, gostaria só de registar que o jogador, unanimemente distinguido como melhor em campo no jogo anterior, não teve qualquer minuto neste jogo...

Falta um jogo e um título que fica sempre bem em qualquer época. Esta não foge à regra. Vamos com tudo! (menos Corona que se fez expulsar estupidamente...)

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