Saco meio cheio
Nos últimos dias havia duas perspectivas reinantes entre os adeptos portistas. Uma mais pessimista que garantia que vínhamos de lá com o "saco cheio" e outra demasiado optimista que previa que iríamos fazer um brilharete. Quem tem vindo a acompanhar a "montanha russa" emocional que é a gestão de plantel de Conceição, não se surpreende com estas previsões antagónicas. Não se concretizou nem uma coisa, nem outra. O Liverpool tem a passagem bem encaminhada mas não conseguiu resolvê-la. Não sei se não conseguiu ou se nem tentou. A maior parte dos portistas vai destacar que nós também tivemos várias oportunidades e que o VAR não existiu, algo invulgar nestes jogos contra 'tubarões'. Com isso pretenderão dizer que o resultado deveria ter sido melhor ou até mais justo. Eu posso concordar que deveríamos ter marcado e que a arbitragem teve decisões vergonhosas, mas acho que a diferença de dois golos entre as duas equipas se adequa bem ao que se passou no campo. Seja 2-0, 3-1 ou 4-2, é importante reconhecer que o Liverpool confirmou o seu amplo favoritismo e mereceu ganhar.
Vamos ao onze apresentado. Aqui também fui notando duas correntes de previsão. Uma que pretendia que Conceição assumisse a nossa forma de jogar e apresentasse um onze corajoso, próximo no nosso habitual e com os dois avançados. Outra defendia que se deveria ter mais cautelas e que Conceição deveria arranjar uma maneira de reforçar a nossa capacidade defensiva, talvez até com 3 centrais. Ora acabámos por ter um pouco das duas correntes. Quem viu o onze inicial, até pensou que Conceição tinha apresentado uma estratégia audaz e próxima no nosso habitual. Os primeiros minutos de jogo vieram desmentir essa ideia. Os onze estavam lá, mas a disposição era bem diferente da habitual. Uma coisa foi parecida ao habitual: cumpriu-se a quota máxima de talento em campo. Ou joga Brahimi ou Oliver. Os dois já seria demasiado... Na prática oscilámos entre um 1-5-4-1, enquanto defendíamos e o 1-4-4-2 habitual, em momento ofensivo. Assim, os dois avançados eram uma ilusão. Efetivamente, com bola, Marega aproximava-se de Soares. O problema é que tivemos pouca bola e vimos Marega mais próximo do Alex e da linha defensiva. De igual forma, Corona foi muito mais um lateral, do que um extremo direito. Isso implicava que Maxi acabasse por passar mais tempo a central... Quem diria? Eu que aqui critiquei o Abel por inventar o Goiano a central... Karma. O que pretendo destacar é que julgo que ficámos a meio. Nem apresentámos um onze audaz, capaz de pôr o Liverpool em sentido, nem apresentámos uma estratégia defensiva reforçada. Isto porque se notou nos dois golos sofridos, que foi uma estratégia pouco treinada ou que, mesmo que tenha sido treinada, causou muitas dificuldades de adaptação. No primeiro golo, Felipe dá demasiado espaço a Firmino, mas tínhamos superioridade numérica na ala e a cabeça da área estava muito desprotegida. O segundo golo é ainda mais paradigmático do facto de ser possível permitir golos fáceis, mesmo com uma linha defensiva hiper reforçada. Perante uma linha de, pelo menos, seis elementos, bastaram 3 passes simples, numa mudança de flanco, não propriamente rápida, para o golo.
Valeu que, apesar de todas as diferenças entre as duas equipas, o Liverpool se aproximou do FCPorto numa das suas principais características e que foi o desperdício de várias oportunidades claras de golo. No nosso caso, podemos sempre contar com o factor Marega. Já o conhecemos como um dos jogadores mais desconcertantes do passado recente do FCPorto. Por um lado, é capaz de lutar de igual para igual com os melhores centrais em termos de ataque à profundidade e disputa física. Isso garantiu-nos mais oportunidades de golo do que é habitual nestes jogos. O problema é que as oportunidades que ele criou tinham de ser concretizados por ele próprio. E aí... Já sabemos que ele tem mais dificuldades. Até poderão dizer que é cruel criticá-lo por falhar as oportunidades que ele próprio cria, mas terão memória curta. O FCPorto tem um histórico recente de grandes avançados. Hoje em dia, não temos e esse tem sido o nosso maior obstáculo ao sucesso e, por exemplo, o motivo principal para não estarmos à frente no campeonato. Com mais qualidade na frente, não haveria Paixão que chegasse!
Falando um pouco do jogo. Entrámos bem nos primeiros minutos, enquanto estivemos no meio-campo ofensivo. Assim que o Liverpool passou o meio campo pela primeira vez, percebeu-se logo que íamos ter dificuldades. Confirmou-se e o 2-0 surgiu com naturalidade. Até ao final da primeira parte, conseguimos dividir o jogo em termos de oportunidades de golo. Talvez possa concordar com Conceição e o 2-1 ao intervalo não iria escandalizar. Sobretudo por causa do penálti claro e parvo que ficou por marcar. Na segunda parte, a entrada de Brahimi notou-se mas, para ele entrar, tivemos que abdicar de Soares, que fez falta. O jogo foi mais dividido e tivemos mais algumas oportunidades, através da velocidade de Marega. No outro lado, o Liverpool foi baixando a intensidade, talvez porque recebe o Chelsea no Domingo, ou porque achou que não valia a pena correr muitos riscos. Pelo meio mais uma decisão inacreditável e com impacto na eliminatória, que foi a não expulsão de Salah por entrada assassina sobre Danilo. No final saímos com um resultado mau, mas não tão mau que nos impeça de tentar discutir a eliminatória no Dragão. Faltaram os golos fora.
Individualmente dou o MVP a Militão. Esteve impecável e teve muito trabalho, porque Alex não estava em condições físicas mínimas. Enfrentou muitas vezes Salah e não me lembro de um duelo perdido contra um dos melhores jogadores do mundo. Irritou-o ao ponto de ele ter de agredir o Danilo... Felipe esteve bem naqueles movimentos defensivos característicos nele, mas deu muito espaço no primeiro golo. Gostei também de Corona e Oliver. Foram dos poucos que conseguiram reagir com alguma serenidade à fortíssima pressão do Liverpool. Pelo contrário, Otávio foi dos que mais sucumbiu perante a pressão. A garra está lá, mas faltou o resto. Marega, só teria nota positiva se conseguisse fazer algo de significativo, além dos golos falhados... A entrada tardia de Brahimi trouxe mais bola e mais perigo para o Liverpool. Tinha de ter sido titular! Não consigo compreender esta opção. Bruno Costa não tremeu mas também não trouxe nada e Fernando Andrade não é deste filme.
No sábado voltámos ao nosso principal objectivo. Não foi possível trazer um resultado que desse para motivar a equipa para mais um esforço, mas foi importante não termos trazido um resultado que desmotivasse, como o do ano passado no Dragão. Concentração e empenho máximos, é o que se exige!
Comentários
Eu tenho uma opinião muito contraria ao blog sobre ele, acho um jogador estéril com limitações terríveis para um médio: decide muito mal no último passe e é limitado a preencher o meio campo, aparecendo raramente em zonas de finalização ou de pressão alta.
O Oliver é um descongestionador no miolo e isso não basta para se ser um grande médio. Com Herrera teríamos um porto muito mais competitivo ontem.
Também pela negativa destaco o Felipe que esteve bastante mal na primeira parte, muito nervoso.
E o Soares; não se lhe pode pedir mais e até lhe vislumbrei algumas recepções de bola melhores que o habitual, mas é cada vez mais obvia a falta de qualidade para jogar no porto. É desesperante a falta de agressividade na antecipação e em zonas de finalização. Pressiona bem.
De resto, destaco:
- O oposto do Oliver é o Otavio, apesar da atitude ressabidada que não se admite e de não ter feito um grande jogo. Mas chega a Anfield e corre, pressiona, pega na bola e mostra-se ao jogo.
- Corona e principalmente militão são jogadores de categoria superior à media.
- Marega também é melhor que os outros. Podemos argumentar que é limitado e que não finaliza mas o que é certo é que ontem sem ele teríamos feito uma triste figura. Grande jogo, não lhe podemos exigir mais.
- Brahimi tem de jogar sempre. Ainda para mais num jogo onde a diferença de qualidade entre as duas equipas é tão grande.
Não vou rebater todas as apreciações que me parecem muito mais relacionadas com a tua ideia prévia sobre os jogadores.
Concentro-me apenas na apreciação a Oliver. Dizes que se escondeu, mas é dos jogadores do FCPorto que teve mais bola em %. Isto apesar de ter saido aos 70 minutos. Foi o jogador que fez mais passes e mais passes certos. Foi o que fez mais recuperações de bola, juntamente com Felipe. Ainda teve tempo de criar a nossa melhor ovasião em todo o jogo. Os números são estes e são claros. Fica só este exemplo e arranjamos facilmente outros. Marega que tem numeros de perdas de bola inaceitaveis para este nivel.
Eu percebo a expectativa mas infelizmente não acredito que se venha a transformar num grande médio (atenção que sou daqueles que não tem problema nenhum em dar o braço a torcer e espero que isso venha a acontecer)
Pega no jogo de ontem e vê que, encostado à linha, desmarcou o Soares, o Marega e o Alex nos primeiros minutos do jogo!
A unica coisa que o Óliver não faz - e isso não faz porque não - é CORRER CAMPO FORA, como fez o Bruno Costa e faz o Otávio. Isso não faz, porque isso é indiferente. A bola é MAIS RÁPIDA do que os pés. Não é é entusiasmante, não põe o estádio no rebuliço doido!
E quanto à pressão, o meio campo adversário é o sítio onde o Óliver mais pressiona e mais bolas recupera!
Não faz é faltas, não empurra ninguém, não vai com o cotovelo, não manda vir e não começa aos gritos com o árbitro.. isso, de facto, não faz.
Mas sabes porque não aparecem nos resumos? Porque temos um ataque ridículo que NÃO APROVEITA.
Sem dúvida, é uma formiga esclarecida no meio campo.
Mas falta o resto, o fazer de facto a diferença. É efectivamente um jogador que não decide.
Um jogador na posição dele deveria ter muio mais assistencias, cruzamentos, remates, faltas...
Não podem ser só os avançados que ao longo dos anos são maus ou os treinadores que não vêm o obvio...