Pressão contínua
O facto de nós estarmos na primeira divisão europeia e o Benfica na segunda, faz com que tenha sido sempre a possibilidade de jogar antes do adversário, de quem dependemos para revalidarmos o título nacional. Óbvio que isto só tem sido uma vantagem porque a equipa tem vindo a cumprir escrupulosamente o seu papel. Mesmo quando, teoricamente, temos uma jornada de dificuldade superior à do adversário, como foi o caso neste fim de semana. Vencemos bem e ficámos à espera da escorregadela. Por muito que custe, é o que nos resta...
Mas ninguém estava propriamente esperançado com o desempenho do Setúbal. Mesmo se tivermos em consideração que o Benfica tem feito exibições bem tremidas em casa. Hoje mesmo, voltou a resolver o jogo com eficácia ofensiva. Não me tenho cansado de repetir. O nosso maior defeito tem sido a maior virtude do nosso adversário. É que, em termos de futebol, a diferença não tem sido muita. E não mudarei de opinião se a situação se inverter, como espero. E que esperança é esta? Daquelas irracionais do "enquanto for matematicamente possível"? Também é um pouco disso. Esse é um dos melhores condimentos do futebol. Mas também vejo que o Benfica tem vindo num crescendo de decréscimo exibicional, quando parece que o FCPorto tem vindo numa tendência inversa, com jogos mais seguros, excepção ao de Braga. Nestas últimas 3 jornadas o Benfica jogou duas vezes em casa perante equipas do fundo da tabela e foi jogar ao terreno do já condenado Feirense. Houve resultados mais folgados e menos folgados, mas há um denominador comum entre estes jogos. Todas estas equipas conseguiram criar grandes problemas defensivos ao Benfica. Se nos concentrarmos no Setúbal que jogou recentemente no Dragão e na Luz, fizeram 14 remates na Luz, 7 dentro da área, e marcaram dois golos. No Dragão fizeram apenas 3 remates e nunca estiveram perto da nossa área ou de marcar. Já o Tondela tinha rematado 12 vezes e 5 dentro da área. De resto, as médias do campeonato são claras sobre a forma como a eficácia ofensiva do Benfica tem vindo a esconder um sistema muito permeável, até às equipas mais limitadas do campeonato. E isso dá-me mais alguma esperança a somar à irracional que todos temos. Wishful thinking? Talvez...
Vamos ao jogo. Achei que ia ser melhor. Passo a explicar. O onze é muito próximo do meu onze ideal, para este plantel do FCPorto e para a forma de jogar de Conceição. Jogou a nossa melhor dupla de centrais e de avançados disponíveis. Jogaram os alas que melhor interpretam o esquema, sejam os laterais ou os extremos. Apenas teria de incorporar Oliver como um dos dois médios, em vez de estar na bancada. Mas, dado o que tem sido o passado recente das escolhas iniciais de Conceição, dou-me por satisfeito. A verdade é que a exibição foi oscilante e julgo que o facto de estarmos no meio de dois jogos com o Liverpool teve uma clara influência, quer a nível físico, quer ao nível motivacional. Houve ali uma clara gestão de ímpetos. Se ofensivamente começámos por criar perigo constante, com boas exibições de Brahimi, Corona e Marega, a transição defensiva deu alguns problemas. Sobretudo na primeira parte, o jogo esteve partido e descontrolado, algo que não era necessário, visto que estávamos em vantagem. Na segunda parte, acalmou o jogo, mas também deixámos de ser tão perigosos. O golo de Marega ajudou a resolver, numa altura em que já temia que tivéssemos um daqueles fins de jogo de chuveirinho para a nossa área.
Individualmente, dou o MVP a Marega. Também gostei muito de Pepe, mas tento ser coerente. Se escrevo tantas vezes que o problema de Marega é a eficácia versus as oportunidades que ele cria, este jogo resolveu-se em duas arrancadas dele em que finaliza e assiste. É isto que se espera dele e estaríamos em melhores condições se tivéssemos tido avançados com este rendimento em mais jogos. A este propósito, houve uma receção de bola de Jackson que até deu vontade de chorar... Pepe não leva o MVP mas fica próximo. Grande jogo na sua posição de origem e com um central que o complementa na perfeição, ao lado. Espero que se mantenha esta dupla até ao final. Esperarei sentado, por certo... As restantes exibições foram agradáveis e não tenho nenhuma nota negativa a não ser o facto de Oliver ter ido para a bancada depois de ter sido dos melhores contra o Liverpool. Já sei que Conceição não acha isso, mas... Depois do Brahimi no banco, nova bizarria. Curioso que o filho de Conceição, Francisco, esteja a passar por uma situação semelhante nos sub17. Sempre que joga é dos melhores ou o melhor, mas Tulipa tem vindo a preteri-lo nalguns jogos, para apostar em jogadores mais "robustos" e tácticamente mais "fiáveis". Ironia da boa ou será que Conceição, em casa, diz ao miúdo que o treinador que chega à fase final e muda tudo, tem razão?
Na quarta-feira é para fazer tudo o que está ao alcance. Dada a ausência de Manafá dos inscritos recomendo uma solução com Corona a fazer todo o corredor e com a nossa dupla de centrais mais forte: Pepe e Militão. Não temos muito a perder. Pelo menos temos de fazê-los sofrer um pouco.
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