A sorte


Continuamos a falar demasiado do tal factor incompreensível para o ser humano. Confesso que não tolero facilmente estas conversas sobre a inevitabilidade, o destino ou a sorte. Não porque acredite que não haja situações de sorte ou azar. O problema é a banalização da sua utilização para que sirva como desculpa ou atenuante, sobretudo no desporto. De facto, se analisados isoladamente, há 3 golos no jogo de sexta-feira, que são fruto da sorte de uns e azar de outros. Sobretudo o que dita o empate e o de Marega. 

Mas temos sempre de rever as circunstâncias. O golo de Marega surge de um lance de lançamento lateral para a área, que o FCPorto vem repetindo constantemente (sem sucesso) há dois anos. O Rio Ave deveria estar preparado e, pelo menos, colocar mais gente na área. Já o segundo golo de Rio Ave surge de uma bola que podia ter sido afastada por Danilo, numa altura em que se pedia mais pragmatismo e menos parcimónia naquelas zonas. Sorte? Azar? E se alargarmos a análise ao jogo no global? O Rio Ave já não tinha nada a perder e jogou completamente aberto. Notou-se que não costumam jogar assim porque, apesar de tentarem sair com a bola controlada, surgiam com muita gente na frente e permitiram que o jogo partisse facilmente. Este FCPorto de Conceição adora esse tipo de jogo e aproveitou para criar perigo e chegar a uma vantagem de dois golos. Mas já percebemos que este jogo aberto e sem meio campo é emocionante mas não é propício à segurança no resultado. Podíamos ter tido uma goleada e podíamos ter tido um empate. É o que acontece quando os dois treinadores abdicam de controlar o jogo. Um fê-lo porque não tinha nada a perder. Outro porque conhece bem a equipa que montou e sabe que não temos a capacidade para fazê-lo. Mas não podemos culpar apenas o modelo de Conceição, até porque foi esse modelo que nos trouxe até aqui e julgo que nos vai levar vivos até à última jornada. Notou-se uma inquietante apatia nos jogadores. Nos primeiros dois minutos de jogo tivemos dois bons exemplos. Corona recebe a bola na área, enrola e desperdiça uma boa oportunidade de atirar à baliza fugindo inexplicávelmente para a linha. Pouco depois, Herrera arranca pela esquerda e, perante a aproximação do adversário, nem tenta cruzar ou ganhar canto deixando a bola sair pela linha final. Na bancada começámos logo a traçar cenários dantescos. Ainda piores do que o que tivemos. A este propósito, também não senti na bancada o apoio habitual. Não sei se é a acústica do estádio mas mal ouvia a claque e senti que também contribuímos com o nosso nervosismo para aquela tremideira final.

Individualmente, tenho muita dificuldade em dar o MVP. Dou a Brahimi. Já sei que teve momentos bons e momentos maus como o lance que falha isolado e o passe errado que resultou numa grande oportunidade do Rio Ave. À falta de melhor, o meu critério vai para os que pareceram menos apáticos e ele e Militão foram os que que se destacaram nesse capítulo. Nota negativa para os restantes, em especial para Pepe e Danilo que tiveram o 'azar' de fazer os erros maiores nos golos sofridos. Mas podia listar aqui erros comprometedores para todos os nossos jogadores. Conceição mexeu muito mal no banco. Foi retirando talento do campo quando deveria ter contribuído para tentar ter mais serenidade no jogo. Um pouco mais de Oliver e até de Bruno Costa. Deviam ter entrado os dois, mais cedo. Sobretudo o primeiro porque o miúdo é bom, mas está a ser mal gerido. Quase só entra nestas situações limite...

É provável que o campeonato esteja irremediavelmente entregue. Acredito que o FCPorto ainda não se rendeu, mas a 'sorte' que o nosso adversário tem tido com os factores arbitrais ajuda a que tenhamos essa convicção. Mas temos de continuar a pôr pressão. Desta vez jogamos depois. Temos de ganhar bem!

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