Motivo para alarme


Não convém entrar em dramas. Foi um desaire doloroso que nos tira da liderança mas que também nos deixa a apenas 1 ponto da mesma. É óbvio que, em fim de semana de clássico da tv a preto e branco, tínhamos uma boa oportunidade para começar a ganhar vantagem e o resultado até permitia que ganhássemos vantagem em relação aos dois... Mas eu prefiro apelar à calma porque já sei que é uma tendência quase inevitável nos adeptos de hoje em dia: ao primeiro desaire questiona-se tudo. E logo vêm aquelas frases «merecemos perder», «não jogamos nada», etc.. Ainda por cima o treinador Sérgio Conceição fez questão de dizer que merecemos perder. Mas o nosso treinador não o diz com a mesma intenção dos adeptos. Ele procura gerir a comunicação com o grupo e transmitir que o que se fez no Sábado poderá chegar para ganhar muito jogos, mas não chega para o que ele pretende da equipa. 

Como tal, não julguem que esta vai ser uma crónica para descascar na equipa, no treinador ou na SAD. Em minha opinião, ao contrário do que se tem repetido até à exaustão, o FCPorto não mereceu perder. O Vitória tem 4 oportunidades de golo, tendo materializado 'apenas' 3 delas. Já o FCPorto teve muito mais e até podemos descontar o golo obtido em claro fora-de-jogo e o festival de golos falhados no período de descontos. Até ao lance em que Sérgio Oliveira teve uma paragem de cérebro, nada fazia prever uma reacção do adversário e o jogo estava controlado. O problema, tal como aconteceu no Jamor, é a reacção à contrariedade. É clara a instabilidade emocional em que os jogadores entraram em dois jogos consecutivos, após sofrer o primeiro golo. E isso deixa-nos tão preocupados que até nos esquecemos que o jogo esteve controlado até aos 60 minutos, que dispusemos apenas de uma substituição que não fosse por obrigação, que o adversário teve uma eficácia invulgar e concluímos: merecemos perder!

Assim, concordo que tínhamos obrigação de mostrar muito mais, mas não diria que merecemos perder. Ainda assim, há 3 assuntos para estudar com atenção nos próximos jogos: posse de bola, Sérgio Oliveira e Maxi. Aqui acho que há motivo para alarme.

É até possível que os dois primeiros assuntos estejam relacionados mas comecemos pela qualidade da nossa posse de bola. O FCPorto só sabe ter bola para investir em direção à baliza contrária. É a única posse de bola que conseguimos com qualidade, mas também a mais arriscada. Quando temos de usar a posse de bola para controlar o jogo, baixando o ritmo, o que vemos são passes entre centrais e laterais até que a pressão obriga a bater bola para a frente. E isto vezes sem conta. Volto a repetir que isto é resultado do futebol que Sérgio Conceição quer aplicar e dos jogadores que ele tem utilizado e que ele acha que melhor se adaptam ao seu sistema. São opções claras. Basta ver que, perante o 2-1, preferiu ficar com avançados mais agressivos do que manter Aboubakar, que é o que segura melhor a bola e que joga mais envolvido com os médios. Não valerá a pena incorporar um plano B de jogo que implique mais controlo e outro tipo de jogadores? Ou é só velocidade máxima ou nada? Sérgio Conceição tem fugido a este tipo de jogo desde que chegou, mas acho que vale mesmo a pena ponderar introduzir mais equilíbrio no nosso jogo.

Por falar em equilíbrio, se há posição em que devemos ter jogadores equilibrados é o meio campo. E Sérgio Oliveira, apesar de não ser o cúmulo do equilíbrio, chegou a fazer grandes jogos nesta posição. Um deles foi o jogo de abertura do campeonato contra o Chaves. Mas esta já foi a terceira exibição miserável em quatro. E há que começar a ponderar se vale mesmo a pena confiar-lhe a titularidade até ao regresso de Danilo. Sinceramente, eu gosto muito de ter jogadores portistas na equipa. E gosto do Sérgio. Mas custa-me constatar que um jogador, com as limitações que ele tem, consegue ser titular na nossa equipa. E tenho dito isto mesmo quando ele está na sua melhor forma. Imaginem agora. As comparações também não o ajudam. Se olharmos para o seu lado tem um jogador como Herrera que faz tudo mais rápido, mais forte e melhor. Ainda por cima, sempre que Oliver entra para esta posição tem feito muito melhor, ofensivamente e até defensivamente.

Para terminar Maxi. Este é um parágrafo que me custa porque é um jogador que tem uma intensidade e um coração impressionantes. Mas ao contrário de Casillas, as capacidades de Maxi não estão intactas. Maxi vai lá muitas vezes mas já não volta sempre. Quantas vezes vimos Otávio e Sérgio Oliveira a fechar na lateral direita nestes dois jogos? Custa-me constatar isto, mas parece-me que Maxi terá de ter um papel semelhante ao da época anterior. E sendo assim, temos de nos preparar para entregar a titularidade a Militão ou João Pedro.

Individualmente, apenas gostei de Otávio. Claro MVP para mim. Gostei também da entrada de Oliver e da fúria final em busca do resultado. Brahimi fez coisas boas e um excelente golo, mas pareceu-me sempre limitado. Julgo que a lesão já vinha de trás. Não gostei nada de Sérgio Oliveira, mais uma vez. Acho que Aboubakar não deveria ter saído, dadas as circunstâncias, mas confesso que voltei a não gostar da sua exibição. Marega entrou, mas só apareceu nos descontos. Pouco. Não gostei da tremideira dos centrais mas também não me parece que os médios ajudem muito, como se viu no último golo sofrido, em que Sérgio Oliveira está lá só a filmar. Não consigo dar nota negativa a Maxi, mas temo que já não chegue para este ritmo de Conceição

O próximo jogo é outra vez no Dragão. Uma resposta cabal, será o mínimo que se exige.

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