Caso Casillas e o experimentalismo
Já sei que foi apenas um jogo e que tanto Sérgio Conceição como a equipa têm estado bem acima do esperado. Se me dissessem que íamos perder 3-2 em Leipzig, no momento do sorteio, eu não poderia estranhar. É uma equipa boa e com muitas soluções ofensivas de qualidade mundial. Mas o jogo de hoje foi horrível! É um resultado extremamente enganador porque é escasso para os alemães. Tenho dificuldade tirar alguma coisa do jogo que não sejam perplexidades.
Mas a maior perplexidade é Sérgio Conceição. Imaginem esta situação: vamos ver um espectáculo de magia e, a certa altura, o ilusionista apresenta um número em que faz desaparecer do palco um elefante. Brilhante! Só nos resta aplaudir de pé tal façanha. Já estávamos surpreendidos por alguém conseguir enfiar um elefante no Rivoli, quanto mais fazê-lo desaparecer! E se, no número seguinte, o ilusionista, no meio de um truque de cartas, apresentar dificuldades em baralhar, deixar cair as cartas no palco e não acertar na carta que o membro da audiência escolheu, nem à quinta tentativa? É caso para duvidar. Poderá ter tido sorte, antes? Mas era um elefante adulto! E isto é um simples truque de cartas... Bem, julgo que dá para perceber a ideia. O que pretendo dizer é que Sérgio Conceição conseguiu o mais difícil. Após a primeira derrota, estabilizou a equipa numa base de confiança, demonstrou que tinha capacidade de se adaptar às dificuldades que os jogos nos foram trazendo e passou incólume a uma semana em que jogava em Alvalade e com o campeão francês. Agora era preciso estabilidade. 'Colher os frutos' do trabalho das últimas semanas. Ontem bastava empatar. Bastava apresentar um onze sólido, confiante, experiente e capaz responder perante a antecipável pressão inicial de um adversário que precisava de pontos. Para quê inventar? Por que é que não apresentámos o nosso melhor onze? Porque é que não apresentamos o nosso guarda-redes mais experiente e que transmite mais tranquilidade à defesa? Porque é que se insistiu em apresentar o nosso lateral direito que defende pior, quando essa é a única posição do plantel em que temos 3 opções válidas (4 se contarmos com Dalot)? Podia perder na mesma, mas era completamente escusado perder de maneira a que seja possível assacar responsabilidades a um treinador, até agora unânime e justamente aplaudido. Era escusado dar à imprensa adversária um caso para encherem as suas páginas e os programas de 'paineleiros'. Para quê tanto risco? Ninguém me garante que o erro de José Sá não pudesse ser cometido por Casillas. Ele, recentemente, também teve muitas culpas no segundo golo do Besiktas. Mas sou capaz de garantir que um erro de Casillas não deixaria a defesa tão intranquila como se viu ontem. E o que se pedia era tranquilidade. A pressão estava do outro lado.
O jogo foi muito fraco. Já sabíamos que esta solução de meio campo trazia mais transpiração que inspiração mas, ao contrário do que vimos nos jogos anteriores, o preenchimento dos espaços foi péssimo. Cedo se viu que o Leipzig passava facilmente pela pressão dos nossos médios através da colocação de um dos alas em zonas interiores, mas não se fez nada quanto a isso. Vimos a mesma jogada repetida vezes sem conta e sem que se conseguisse resolver. Bastava um médio mais posicional. Mas não foi um jogo bom de Danilo. Foi uma das exibições de que menos gostei. Outro problema foi a saída para o ataque. Aboubakar fez o possível para tentar segurar a bola, mas bastou uma exibição menos inspirada de Brahimi (muito marcado) e o nosso futebol ofensivo desapareceu. Porque, com este onze, só há Brahimi. O resto são correrias. No lado direito, ao intervalo, Marega e Layun tinham uma média de 30% de passes acertados. E mesmo assim, fizemos dois golos. Incrível! E as substituições? No intervalo com o Besiktas, depois de uma primeira parte muito melhor do que a de hoje, Sérgio muda dois jogadores. Porque não tentar o mesmo 'efeito de choque'? Sem Soares no banco, este esquema com Marega deixa o treinador sem soluções no banco. Mas é por culpa própria. Como se viu nos minutos em que jogou, Corona podia perfeitamente ter sido titular e passaríamos a ter uma solução ofensiva no banco. Assim, Marega fez a sua pior exibição da época e o Sérgio não o podia tirar, porque estava a perder e queria ter gente na frente. Só espero que Sérgio Conceição perceba todos os erros que cometeu e a sorte que teve em não ter sido goleado hoje. Se perceber isso, talvez possamos sair desta 'montanha russa' emocional que tem sido esta edição da Champions.
Individualmente, gostei de Aboubakar, de Felipe e de Alex Telles. Marcano este no melhor, mas há dois golos em que acaba por comprometer. Num deles com algum azar. Brahimi cresceu na segunda parte e podia ter ficado até final. Não gostei nada de Danilo. Esteve pior até que Herrera e Sérgio Oliveira, que acabaram por passar ao lado do jogo. Layun foi o que se esperava defensivamente e, na frente, exagerou nos cruzamentos de fase recuadas. Deveria ter procurado a linha mais vezes, sobretudo na parte final do jogo. Mas o pior foi mesmo Marega. Ele andava a esconder todas estas 'nabices' com duas ou três jogadas por jogo, em que tem sido decisivo. Sem isso, sobram só as habituais perdas de bola e os passes falhados. Por último, gostei da entrada de Corona e esperava um pouco mais de Oliver, apesar de ter jogado melhor que qualquer um dos restantes médios.
No sábado regressamos ao campeonato. Antecipa-se mais uma experiência engraçada quando recebermos o onze titular.
Comentários
Mas choca-me mais Layun, querer fazer descansar Ricardo para o campeonato, "vá que não vá" mas não contar com Maxi, que até podia trazer coisas boas, principalmente para ele, para mim é inexplicável!
Deitar por terra, aquilo que evolui esta época (garra, ambição, grupo, união,etc) é muito mau, espero estar muito enganado!
Não concordo com o mais ao Felipe e o menos ao Herrera! E logo eu, que estou inteiramente à vontade para falar nestes dois...
Taqui
Tivemos a sorte do jogo, mas Sérgio nunca conseguiu ver as nossas debilidades e corrigir o que estava mal. As substituições, exceptuando a entrada do Corona, não trouxeram nada de novo, pelo contrário.
Estes gajos estão habituados a jogar futebol todos os fins de semana, nós temos 4 jogos deste nível no nosso campeonato por ano.
A diferença de ritmo é brutal, os nossos jogadores fazem tudo em câmara lenta, enquanto que eles pegam na bola e em três toques está na nossa área.
Entre o Layun e o Ricardo a defender, não sei qual dos dois é pior sinceramente, e no meio da incapacidade ontem em fazer tabelas, o Layun ainda se desenrascou umas vezes. O único que sabe defender é o Maxi!
Não se pode começar a por (já) em questão o trabalho do Sérgio, que para já é bem bom para o plantel que tem, não nos esqueçamos que ontem jogaram Herrera, Marega, Hernâni e Sérgio Oliveira, jogadores que no nosso El Dourado nem sequer iam ao banco.