O dia em que Vítor Pereira deu um brinquedo a Pep...
Como a cada resultado negativo do Porto especula-se sobre outros treinadores e porque parece que esta entrevista passou ao lado de muita gente, acho que vale perder 5 minutinhos :-)
R – Conseguiu perceber onde é que o Bayern falhou naquela meia-final da Champions com o Real Madrid, na época passada?
R – Esteve recentemente uma semana em Munique a acompanhar de perto o trabalho do Bayern. Com que ideia ficou?
VP – Com a ideia de que o Guardiola é um treinador que nunca está satisfeito com aquilo que faz. E eu identifico-me um bocadinho com essa forma de pensar. A única coisa que interessa é fazer o que ainda não está feito. É como se eu quisesse ver o jogo que nunca vi jogar. É ter a necessidade de, mesmo ganhando, chegar ao fim e pensar: “Não era isto que eu queria. Era muito mais.”
R – Ganhar já não chega?
VP – Não, não chega. Descobrir coisas novas é o que mais sentido faz para um treinador. Ainda agora em Munique almoçámos juntos, a convite dele, no Hotel Kempinski. Bom, às tantas, começámos a falar da nossa profissão e aquela mesa, entre copos e talheres, parecia um campo de futebol! (risos) Ele já misturava o espanhol com o catalão, e tive de lhe dizer: “Calma, mais devagar, que assim eu não consigo acompanhar… (risos, de novo) A capacidade de raciocínio dele é uma coisa impressionante. Pensa muito à frente. O Bayern joga um futebol fantástico e não é só pela capacidade dos jogadores, é também pelos princípios de jogo. E aquilo parece fácil, não é? Ponham lá outras equipas a fazer o mesmo…
R – O Neuer a líbero e o Lahm a jogar no meio eram coisas difíceis de imaginar.
VP – Pois eram. Mas não para ele. O Lahm sempre como linha de passe, fantástico! O Pep é muito engraçado durante os treinos. Está sempre a criar qualquer coisa. Às vezes chama miúdos da formação. Quatro ou cinco de uma vez. E tem uma preocupação permanente, mesmo com miúdos franzinos, que jogam ali no meio. No final do treino vinha ter comigo e falar sobre esses miúdos. E dizia: “Viste o talento? Viste a qualidade do miúdo?” Sempre, sempre à procura do talento, de um pormenor que pode vir a fazer a diferença..
R – Conseguiu perceber onde é que o Bayern falhou naquela meia-final da Champions com o Real Madrid, na época passada?
VP – Por acaso discutimos isso. E eu disse-lhe exatamente aquilo que penso: “Pep, em determinados jogos continuas a expor a tua linha defensiva no momento da transição.”
R – Ele concordou?
VP – Continuei a dizer-lhe. “Pep, está a acontecer-te isto, isto e isto. Esta é a minha opinião. Se quiseres, reflete”. Ele concordou e respondeu-me: “Tens razão. Já percebi isso. Mas ando à procura de um exercício que me permita resolver o problema”. Eu disse-lhe: “Vou dar-te uma sugestão. Se aceitares, aqui está. É assim”. E dei-lhe um exercício, explicando-lhe que já tinha sentido aquele mesmo problema em equipas minhas e que tinha resolvido daquela forma. “Resulta de certeza absoluta”, expliquei-lhe. “Nunca tinha pensado nisso”, diz-me o Pep.
R – Até que…
VP – No dia seguinte chego ao treino e vem o Manuel Estiarte, adjunto dele, ter comigo: “Vítor, o que deste ao homem? O que deste ao Pep? Passou toda a tarde fechado no gabinete, parecia que lhe tinham dado um brinquedo…” De seguida aparece ele e diz-me: “Vítor, Vítor, vais ver o treino? Hoje vou começar a fazer o que me disseste”. Mas como é um génio, que nunca está satisfeito, foi ainda mais longe: “Se calhar, pegando na tua ideia, ainda dá para colocar isto aqui e aquilo ali”. Ou seja, acabou por adaptar a ideia à forma de jogar da equipa dele. Tem uma capacidade fora do comum.
Comentários
Farsolas!
Ó Rei, o Pep é o terceiro melhor? E o Rui Quinta?