Sete pecados capitais do FCPorto 2013/2014 - O Interino
Fique claro que não está em causa Luís Castro como treinador.
Está em causa o rótulo que lhe aplicaram.
O conceito de treinador interino em futebol é, por si só, um
portador de uma ambiguidade que limita o efeito da ‘chicotada psicológica’. O
treinador de hoje em dia é cada vez mais um gestor de ânimos e de emoções. Essa
gestão vai ganhando cada vez mais preponderância e terreno ao conhecimento táctico e da
preparação física. Como poderemos exigir a um treinador que tire o máximo de
uma equipa em sub-rendimento se não lhe damos legitimidade para tal? Disse-o
aqui: à primeira contrariedade voltaríamos ao mesmo estado em que estávamos com
Paulo Fonseca. Não só se cumpriu como, decorrido o efeito da ‘chicotada’,
conseguimos agravar os problemas, contando desaires nas competições em que ainda
tínhamos aspirações.
Na minha opinião, com a saída de Paulo Fonseca, o ideal seria
planear o resto da época como a pré-temporada de 2014/2015. Não que se baixasse
o nível de exigência. Simplesmente deveríamos definir com quem contávamos para
construir a equipa de 2014/2015, seja no plantel, seja na orientação técnica. A
alternativa era a de apesentar uma solução em que fosse assumido que éramos
candidatos a tudo o ainda houvesse para ganhar, numa solução de curto prazo. Ora,
em nenhum dos casos cabe a solução do treinador interino. Não lhe poderemos
pedir que planeie convenientemente uma época em que não irá participar na
orientação técnica. Basta perceber, a título de exemplo, que os jogadores que
Luís Castro promoveu neste final de época como Reyes, Quintero, etc., poderão
não agradar ao novo treinador. Por outro, lado, não podemos exigir a um
treinador interino que incuta na equipa a ambição e exigência, que permita retirar da
equipa o rendimento máximo e de forma imediata. Até podemos, mas não me parece que
essas expectativas sejam realistas... O problema está no treinador a prazo, seja ele
Luís Castro ou André Villas-Boas. É uma questão de legitimidade perante os adeptos
e perante o próprio plantel.
Com esta solução ficámos a meio do caminho. Por um lado,
demos um sinal à equipa de mudança, mas estabelecemos logo que Luís Castro iria
ser apenas uma ‘pré-mudança’. À primeira contrariedade a equipa voltou a
quebrar. Previsível!
Indiferente à tarefa impossível que tinha em mãos, Luís
Castro procurou preparar a nova época. Criou pontes mais definidas entre a
equipa principal e a equipa B e começou a renovar o onze mostrando aos adeptos
e ao mundo que há ali jogadores que poderão fazer parte do futuro do clube. E
fê-lo tentando enquadrá-los num sistema mais parecido ao anterior, sobretudo no
desenho de meio-campo. Nem todas as opções foram boas, mas percebeu-se a
definição de um rumo e uma ideia de jogo diferente. Não levará uma avaliação
positiva porque acabou por fazer piores resultados que Paulo Fonseca. Mas não
consigo culpá-lo por isso. Valeu mais a ambiguidade da interinidade do que a
objectividade com que ele abordou o desafio.
Tenho pena porque respeito a figura e o treinador. Acho que não teve condições para fazer melhor
e como tal desprezo qualquer crítica às suas capacidades e repugnam-me associações ao
rendimento do projecto ‘Visão 611’. Não é por termos dado um nome ao projecto
que me convencem que havia de facto intenção de revolucionar a nossa abordagem
à formação portista. Ainda assim, a fantástica performance da equipa B deste
ano tem bases no malfadado projecto ‘Visão 611’...
Que fique muitos anos no FCPorto, Prof. Luís Castro!
PS: Este tema foi desenvolvido numa apresentação no âmbito do
III Encontro da Bluegosfera no passado Sábado em Espinho. No entanto, artigo já estava escrito há algum tempo.
Comentários
Quanto ao Luis Castro, deixo a minha grande admiração por esse exemplo de dedicação ao clube. Eu não teria pegado na equipe naquelas circunstancias, sabendo que voltaria para a B.... Que tudo dependia do que aos jogadores lhe apetecesse fazer...
Quanto a preparar a nova época, ao estilo, para o ano é que vai ser, também achei que deveria ter sido. Mas, talvez as circunstancias sejam diferentes e os adeptos não estivessem preparados para tal... e com certeza, o treinador não poderia ser interino...