Plantel 2018/19
Tínhamos prometido uma análise ao nosso defeso e, agora que o mercado fechou por uns meses e que estamos sem campeonato por uns tempos, parece a altura ideal para esse balanço.
Desde logo uma conclusão que retirei: o FCPorto parece ainda estar fragilizado no mercado de transferências, sobretudo no mercado internacional. Mas isso não implica que se tenha construido um mau plantel. Na sexta-feira poderemos ter uma ideia melhor quando pudermos ver algumas das mais recentes contratações em acção.
O defeso começou com desilusões. Uma anunciada há muito: Marcano partiu, como esperado. Logo a seguir, Ricardo Pereira foi vendido imediatamente antes do Mundial e por valores bons, mas inferiores aos praticados no mercado para jogadores jovens, portugueses e internacionais. A comparação não melhora quando temos vendas recentes de jogadores portugueses da mesma posição e valor similar (para ser simpático). Um deles numa venda recente para o Barcelona, por um adversário direto, e outro vendido para a Juventus pouco tempo depois, ambos por valores bem superiores. Acresce que o Leicester gastou recentemente valores muito altos, em Alvalade, por jogadores mais velhos e que não conseguiram até ao momento fixar-se na equipa principal como Ricardo Pereira conseguiu em apenas um mês. Logo aqui algumas das minhas dúvidas sobre a nossa capacidade negocial atual.
A esta 'meia desilusão' seguiu-se uma grande desilusão. É que, para amenizar a saída de Ricardo, havia a consolação de termos nessa posição um jovem formado no Olival que era e é um dos jogadores jovens mais promissores no mundo, que jogava exatamente nessa posição e que já vinha participando em vários jogos no último campeonato. Rapidamente percebemos que a sua permanência não estava garantida por causa de uma cláusula de rescisão relativamente alta, mas ao alcance dos tubarões do futebol mundial que já o seguiam há anos. Mas, ainda assim, começámos a desenvolver alguns cenários favoráveis: certamente que não seria difícil convencer um miúdo nestas condições que teria aqui uma oportunidade de se lançar, agarrar a oportunidade e entrar num grande da Europa pela porta grande, já como uma certeza e não com o rótulo de promessa. Que seria possível apelar ao coração do jogador... Mas não aconteceu. Não sabemos quem tinha mais vontade. Se era o jovem jogador que tinha pressa de ir, ou se era o FCPorto que tinha pressa de encaixar dinheiro fresco com o deposito da cláusula, ou os dois. Se calhar nunca saberemos mas ficámos com um buracão no planeamento de Sérgio Conceição. Nem Maxi estava garantido nessa altura. Mas há que acordar e perceber que o paradigma mudou! O mercado de jogadores jovens mudou muito nos tempos recentes. Basta ver a política de contratações do Mónaco, da Red Bull
e até as últimas contratações do Real Madrid no Brasil. É cada vez mais
importante proteger estes nossos talentos, cada vez mais cedo. E está
visto que 20 milhões não chegam! Os grandes clubes dão muito mais
facilmente 40 milhões por dois Dalots do que por um Marega, um Danilo Pereira, um Brahimi ou um Herrera.
Mal começava o defeso e já tínhamos dois problemas claros para resolver: a posição de lateral direito e de defesa central. E ainda sobrava o jogador para fazer competição para Alex Telles, que deixou de existir com a saída de Layun, e algumas posições que podiam ser melhoradas como a de extremo e de médio para meio campo a dois. Aqui convem registar uma atitude pro ativa no mercado. Contratámos, quase que imediatamente, dois jogadores para a posição de lateral direito. Mas se nessa posição actuámos rápido, nas restantes tardavam as notícias.
Chegou o dia da apresentação do plantel para a pré-época. Fiquei logo alarmado. Aparentemente, dos quatro centrais que terminaram a temporada anterior, nem um se apresentou. Osório, que pouco jogou, foi recambiado de imediato para Guimarães, acompanhando André André e uma série de jogadores que se seguiram para abater a um valor que recuperámos de Marega. Passados uns dias, lá regressaram Felipe de férias e Chidozie do Mundial e de uma bem sucedida época em Nantes. Continuavam a faltar opções e os Diogos Queiroz e Leite foram promovidos. Mas ninguém contava com eles como solução permanente, pelo que faltavam soluções. Para ajudar, logo começaram os rumores sobre a falta de qualidade dos laterais direitos contratados. Tinha sido também apresentado um reforço para ao meio-campo que, dado o que conhecíamos dele de vários anos a competir nas competições nacionais, entusiasmava muito pouco. Uns dias depois, mais um soco no meu estômago com a saída de Gonçalo Paciência por um valor que, tecnicamente, poderá ser rotulado de ridícula ou escandalosamente baixo.
Mas se o cenário já não me parecia famoso, vieram os primeiros testes e tudo piorou. Desde logo, a ausência de reforços que me pareciam fundamentais continuou. Por outro lado, o rendimento dos reforços que vieram, não me agradou. Até os reforços de Janeiro, tardavam a mostrar rendimento. Para completar em beleza, Sérgio Conceição resolve oficializar todos os meus receios, numa estratégia comunicacional que teve tanto de sinceridade como de imprudência. Ficou oficial: tínhamos um problema! E confirmou-se também com a dispensa de várias das contratações de Janeiro e de Julho.
Nas semanas que se seguiram não tivemos mais notícias com algumas pequenas excepções. Herrera regressou, André Pereira e Diogo Leite davam boas indicações, havia boas notícias sobre a recuperação de Danilo e chegou Marius para a frente de ataque. O facto de não termos a certeza se seria contratação para a equipa A ou B é um atestado do entusiasmo que essa contratação causou. Até que se começou a ver que alguns dos processos de contratação de centrais, que se arrastavam, se começaram a concretizar. Apareceu Mbemba, deu-se como certo que Militão já não fugia e até renovámos com Maxi. Assim as coisas já se começaram a compor. Havia dúvidas porque nenhum dos centrais contratados tinham experiência a jogar do lado esquerdo, mas começavam a faltar poucas posições em aberto. Pelo meio soou o alarme com Marega e os seus já habituais casos de indisciplina. Começo a não ter paciência e até já aceitava nessa altura, de bom grado, uma venda por valores inferiores, mas que resolvessem de vez a situação. Mas Marega foi ficando e continuava a haver espaço para melhoria com mais um médio, um extremo e um lateral esquerdo. Duas dessas posições foram preenchidas nos últimos dias de mercado com jogadores jovens, mas que já têm um bom currículo.
Eu diria que a coisa se compôs no final. Pelo menos aparentemente. Mas tal não implica que o defeso não tenha sido repleto de casos e sinais inquietantes:
- Venda de jogadores a preços inferiores ao mercado internacional, nacional dos três grandes e ao habitual no FCPorto no passado recente;
- Incapacidade para renovar com jogadores importantes como Marcano, Herrera e Brahimi e até com jogadores jovens como Dalot;
- Contratação de jogadores mais em conta, mas que claramente não vão de encontro aos anseios do treinador como Janko, Osório e Ewerton;
- Indisciplina de um jogador importante;
- Continuamos a apostar muito nos empréstimos com opção de compra, algo que pode denotar falta de tesouraria e de poder no mercado;
- Aguardamos pelos último dias de mercado para fechar contratações, potencialmente outro sinal de pouco poder negocial (sobras ou oportunidade de negócio?);
Tudo isto são indícios de que, mais uma vez, Sérgio Conceição teve um defeso muito complicado de gerir. Ele merecia melhor depois do que fez no ano passado... Mas termino exatamente com a melhor notícia do defeso que foi a manutenção de Sérgio Conceição. Dá-me a sensação que, apesar de tudo, temos um plantel ligeiramente melhor. Mas é só ligeiramente melhor! Como tal, espera-se de Conceição um novo milagre!
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