E tudo mudou...
Mais a sério, diria que a avaliação a este novo FCPorto é obviamente inconclusiva. Seria demasiado ambicioso exigir que houvesse mais do que alguns sinais de maior empenho. O que também poderia ter mudado era o onze inicial. Passou-me pela cabeça que Rui Barros me fizesse a vontade e trocasse Danilo por Ruben Neves. A entrada de Evandro por Herrera já seria pedir de mais... Manias minhas... Mas Rui Barros, tal como tinha feito quando substituiu Co Adriaanse, optou por não mudar nada. Mais uma vez os resultados foram bons. É mesmo invulgar a eficácia deste treinador. Dois jogos, duas vitórias, duas goleadas, zero golos sofridos, mas desta vez o jogo não valia um título. Mas não deixa de ser requintada a opção de repetir um onze, algo que Lopetegui fazia muito pouco e nem tenho memória de o ter feito esta época...
Poderia entrar na análise de um jogo sem história. Mas não vale a pena. Perante um adversário muito frágil e com jogadores no limite das suas forças, conseguimos tirar proveitos superiores aos meros três pontos. Por um lado, recuperámos Aboubakar para os golos, por outro, deixámos o adversário destroçado, desfalcado e numa posição frágil para abordar a próxima eliminatória da Taça de Portugal, que se vai confirmando como um dos grandes objectivos da época.
O MVP foi Herrera bem auxiliado por André André. Houve boas exibições em geral e dois excelentes golos de Corona e Danilo, sobretudo o primeiro, e uma grande jogada no terceiro golo. Mas Aboubakar perdoou muito. Já o tinha feito em Alvalade e, nos jogos mais apertados, a equipa sofre com isso.
Sendo certo que nada de substancial mudou, passemos a abordar o que pode e deve mudar, independentemente do quem vier substituir Lopetegui. Para uma reflexão completa, convém apurar os motivos da saída. Parece estranho para quem não segue o FCPorto, ver um treinador despedido quando, uma semana antes, estava em primeiro lugar. Se bem percebi a personalidade de Lopetegui, ele deve estar a achar que é o treinador mais injustiçado da história. De facto, tivemos um defeso incrivelmente lucrativo que resultou de uma excelente campanha na Champions League. De facto, o campeonato passado foi uma vergonha e nunca saberemos se um campeonato normal nos proporcionaria um título, isto apesar dos falhanços na Madeira, em Belém e na Luz. Mas isso foi na época passada!
Quando aqui ponderei se concordava com a sua continuidade cheguei à conclusão que concordava que ficasse. Por um lado, pela boa campanha europeia e pelo facto de não ter ficado claro se o Campeão era melhor que nós. Mas o grande motivo que apresentei foi que grande parte dos jogadores evoluíram com Lopetegui. A equipa foi crescendo baseada na evolução de jogadores como Casemiro, Marcano, Danilo, Quaresma e até Herrera. Mas, mais uma vez, isso foi na época passada. Lopetegui não tem culpa, mas qualquer treinador do FCPorto tem de lidar com os 'extreme makeovers' do defeso. Foram jogadores a mais? Foram, mas Lopetegui também tem culpa nisso. Foi ele que quis que viessem três jogadores por empréstimo no mesmo ano, algo que nunca se tinha visto no Dragão. E o mal começou aí. Lopetegui não teve capacidade para reconstruir uma equipa com o plantel que lhe deram. Dirá que, dos jogadores que queria, apenas veio Casillas mas todos o treinadores anteriores tiveram de levar com planteis escolhidos pela Direção e muitos deles viveram bem com isso. Lopetegui não. A sua aparente insatisfação com o plantel fez com que não conseguisse estabilizar uma equipa. E isso fez com que, ao contrário do que aconteceu no ano passado, a equipa fosse perdendo rendimento a cada jogo. Já nem eram perceptíveis algumas das características do seu jogo. A equipa deixou de ter a sua marca, para ser um 'carrossel' lento até ao momento em que a bola entra em Brahimi e mais recentemente Corona. Eles que decidam... Pior que isso, a reacção de Lopetegui perante esta degradação no seu futebol. Tivemos um meio campo cada vez mais recuado e pouco ambicioso, constante rotatividade, experimentalismo táctico, substituições incompreensivelmente conservadoras, nervosismo a partir do banco. Chegou a trocar a dupla de centrais duas vezes num jogo! Já para não falar na forma como tratou a promoção de André Silva ao plantel principal. Ele que o soube fazer tão bem com Rúben Neves... Tudo sinais de constante desnorte e de total contradição com o que tinha feito no ano anterior. Perante isto o Presidente tinha de decidir. O crédito que Lopetegui tinha do ano anterior era assim tão grande que valesse a pena sacrificar mais uma época? Chegou à conclusão que não. Eu concordo.
Assim, aprendendo com os erros de Lopetegui, o próximo treinador do FCPorto tem de, em primeiro lugar, estabilizar um onze. Tem de fazê-lo tendo em consideração o campeonato em que se insere. Num campeonato tão desnivelado, não faz sentido jogar com dois jogadores de características defensivas no meio-campo. Bastará Danilo ou o meu preferido Ruben Neves. Os outros dois médios deverão ter a capacidade de chegar perto de Aboubakar e de receber perto da zona de decisão em vez de virem buscar a bola ao pé do defesa central. Esta ideia de que temos o melhor plantel tem de ser abolida do balneário. Não temos! Só uma equipa humilde poderá inverter esta desvantagem. Se queremos ganhar temos de correr mais, querer mais e, se preciso, bater mais! Não suporto este sentimento de que, nos jogos decisivos, são os adversários que se transcendem. Temos de ser nós!
Concluindo, quatro ideias chave o novo treinador do FCPorto:
- Estabilização do onze;
- Voltar a aproveitar o miolo no meio-campo adversário;
- Humildade, humildade e mais humildade;
- Aumentar consideravelmente os níveis de agressividade baseado.
Comentários
Artur
Luís (O do Nuno Espírito Santo, Pedro Martins, ou Lito Vidigal)